Tuesday, May 15, 2007

Matéria sobre entregadores de pão

Deu no Estado de Minas de hoje, uma matéria sobre os entregadores de pão do Prado. Muito legal, mas o Jornal Marco da PUC já deu essa matéria há uns dois anos, inclusive falando da vigilância sanitária. Mesmo assim vale conferir abaixo.


Pão fresco na porta de casa
Mais de mil balaieiros circulam pelos bairros da periferia e próximos ao Centro de Belo Horizonte. Estima-se que 35% de todo o produto consumido na capital atualmente sejam fornecidos por eles


Sandra Kiefer





Os entregadores de pão, espécie de delivery à moda antiga, estão de volta a Belo Horizonte. Chamados de balaieiros ou cesteiros – por causa dos enormes balaios ou cestas que carregam na garupa das bicicletas –, já existem mais de mil deles circulando em bairros da periferia e próximos ao Centro, como Floresta, Padre Eustáquio e Prado. De manhã ou ao cair da tarde, eles atraem os clientes, tocando a buzina já característica e deixando o pão quentinho na porta. Concorrem diretamente com as padarias estabelecidas em endereço fixo, que calculam que 35% do pão consumido hoje na capital sejam fornecidos por ambulantes, segundo o Sindicato das Indústrias de Panificação de Minas Gerais.


O ressurgimento da profissão dos balaieiros, formada por pessoas desempregadas, em sua maioria jovens, não é fenômeno único de Minas. “No Nordeste, a proporção chega a 50%, prejudicando o segmento da panificação”, informa Luiz Carlos Caio Xavier Carneiro, presidente do sindicato. Ele lembra que os balaieiros descumprem a Portaria 146, do Inmetro, que obrigou as padarias a venderem o pão a peso, válida desde junho do ano passado para todo o país. “Eles continuam oferecendo a unidade a R$ 0,25 e o cliente fica sem a garantia de que o pão de sal pesa realmente 50 gramas. Para burlar a regra, Basta deixar o pão crescer mais no forno e vendê-lo com uma gramatura menor, como por exemplo 30 gramas, cobrando o mesmo valor”, compara Carneiro.


Tarcísio Moreira, diretor da Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), observa que os balaieiros vendem o pão fabricado tanto por padarias legalizadas, que fazem concorrência desleal, quanto por estabelecimentos clandestinos. “É o caso de uma padaria perto da Avenida dos Andradas, que não tem placa e atende por uma janela. O movimento de balaieiros é intenso no lugar e as condições de higiene são péssimas”, denuncia. Ele reconhece que não há como fugir do delivery em tempos modernos, mas lembra que as panificadoras cobram taxa mínima de R$ 3 para cobrir as despesas com motoboy. “Não compensa para o cliente, pois fica mais caro do que o pão”, compara.


Alheia à polêmica, a dona-de-casa Elza Ferreira Alves, de 90 anos, agradece aos céus a visita diária do balaieiro em sua casa amarela, no Prado. Desde a chegada do serviço no bairro, há quatro anos, ela nunca mais teve necessidade de comer pão “dormido”. “Antes, meus filhos traziam o pão para mim, mas quando dava”, revela. Hoje, ao ouvir o som da buzina, a idosa vem descendo devagar as escadas. Na porta, Gilmar Rodrigues Souza, de 22 anos, espera pacientemente. Ele conta o dinheiro da idosa, que já não enxerga bem, e entrega pão doce e bolo de laranja, pois já conhece as suas preferências. “Ela não gosta do de cenoura”, diz Gilmar, que trabalha com dois irmãos no Prado. Todos os dias, anda 16 quarteirões no turno da manhã (entre 6h e 10h30) e repete o trajeto entre 13h e 21h. Cobra entre R$ 0,20 e R$ 0,30 pelo pãozinho francês, transportado no balaio de 1m de comprimento, forrado com panos brancos e coberto com plástico transparente.


Um dos fornecedores de Gilmar é a tradicional Padaria Prado, fundada há mais de 50 anos no bairro de mesmo nome. “Não tenho nada a ver com os balaieiros. Eles apenas compram na minha mão e revendem”, garante Dalma de Carvalho, uma das donas da empresa familiar. Segundo ela, os quatro cesteiros do Prado “roubaram” todos os seus clientes do bairro. “Mas não tem problema, porque é o meu pão mesmo que eles vendem”, reconhece, em seguida.